Alunos do Campus âԳ discutem questões de gênero em evento Mulheres de Peso
Programação despertou nos estudantes reflexões sobre temas como machismo, empoderamento feminino e violência doméstica
Olhos curiosos, debates nos corredores e uma enxurrada de perguntas. Esse foi o clima que tomou conta do Instituto Federal de Sergipe (IFS) – Campus âԳ durante o evento Mulheres de Peso, realizado no final de março em comemoração ao Dia Internacional da Mulher. A comunidade acadêmica se mobilizou e participou ativamente da programação.
Os alunos foram levados a refletir sobre as questões gênero, que permearam todas atividades pensadas pela comissão organizadora. As palestras, as mesas de discussão, o estande educativo em saúde, as apresentações culturais, assim como o concurso e a mostra fotográfica, fomentaram a reflexão sobre temas como violência doméstica, machismo, empoderamento feminino e o lugar da mulher na sociedade.
Expressões artísticas como música, teatro e fotografia despertaram nos estudantes uma consciência crítica sobre os problemas que fazem parte do cotidiano, mas que muitas vezes passam desapercebidos. “Nunca pensei que uma mulher fosse capaz de dirigir um caminhão. É como diz aquela mensagem ali na parede: ‘Lugar de mulher é onde ela quiser”, afirmou Lucas Souza Santos, 18, do curso de Eletrotécnica, enquanto contemplava a mostra fotográfica.
Logo depois de fazer tal comentário, Lucas se surpreendeu com o que disse e percebeu como o machismo está naturalizado em crenças, valores, discursos e opiniões. Sua colega de turma, Rosiane Luiz dos Santos, 18 anos, também foi instigada a pensar a respeito em meio às fotos expostas. “Quando criança meus pais sempre diziam que eu não podia brincar de bola, carrinho, que isso era coisa de menino. Na época eu não entendia, mas agora eu consigo entender o por quê dessa visão”, observou.
Com o tema “Mulheres de peso: nas indústrias, nas cozinhas, nos hospitais, nas ruas, nas fábricas, nos lares, nas manifestações, onde Elas quiserem”, o concurso de fotografia alcançou o objetivo de estimular a reflexão sobre o papel reservado historicamente à mulher na sociedade, ressaltar a importância do protagonismo feminino e da igualdade de gênero e incentivar a expressão artística dos estudantes.
Os participantes puderam se inscrever nas modalidades individual ou grupo. A avaliação envolveu duas fases: votação virtual na página 糵- Campus âԳ, que selecionou 80% das fotos com maior número de curtidas; e votação dos estudantes e de um júri técnico. As três fotos vencedoras foram: Mandume, A cor não define caráter e Mãe Maria.
O juri técnico foi formado por especialistas que residem fora do município de âԳ para que a avaliação fosse o mais isenta possível. Analisaram as fotos a fotógrafa Vaneide Dias de Oliveira, a psicóloga Áurea Maria Pires Rodrigues, do Centro de Referência Especializado da Assistência Social de âԳ (Creas), e a professora de artes do 糵- Campus Lagarto, Valdenice de Jesus Melo.
Receberam menção honrosa as fotos Respeito à dignidade: luta e conquistas hodiernas!, de Erick Mirray do Nascimento Santos (Emoção captada pela foto); Mulheres que quebram dificuldades, de Luciana Mendonça de Oliveira (Contribuição da obra para o fortalecimento do tema); Mãe Maria, de Rebeca Moreira Prado (Qualidade); Mandume, de Danila Matias Silva (Criatividade); Mesmo Sofrida jamais me Kahlo, de Danila Matias Silva (Originalidade); Mulheres: removendo pedras, trilhando caminhos, de Victória Regina Passos Alves (Adequação à mensagem que se pretende transmitir).
O evento foi aberto pelo espetáculo “Olhos de Fogo”, dirigido por Luiz Carlos Dussantus e encenado por Lidiane Nobre, da Cia Risocinico. A programação cultural contou ainda com a apresentação da cantora Fernanda Azevedo, vencedora do concurso de músicas sobre a Lei Maria da Penha, que interpretou a canção “Disque 180 - Chega de Violência contra a Mulher”.
Debates
As mesas de discussão foram proveitosos. O advogado Marcos Vinicius Mota falou sobre "O empoderamento da mulher e a superação da violência: um olhar para os 10 anos da lei Maria da Penha" e enfatizou não só a importância da lei, mas o contexto em que surgiu e se insere. A professora Elza Ferreira Santos usou estratégias como a interatividade e contextualização do tema a partir de exemplos do cotidiano para debater “O protagonismo feminino na busca por igualdade de direitos: transpondo a invisibilidade”.
A psicóloga Lidiane de Melo Drapala usou vídeos, fotos e o caso da judoca Rafaela da Silva, campeã olímpica no Rio de Janeiro, para falar dessa busca por igualdade de direitos. “Desde o incentivo à prática esportiva, do custeio de bolsas escolares e patrocínio, ao espaço que a mídia oferece às mulheres, há um viés objetificação, de sexualidade e sensualização do corpo da mulher. As habilidades esportivas e da performance para competição são esquecidas”, analisou.
Segundo a psicóloga Manuela Vilanova Barbosa Alves, integrante da Comissão Organizadora, o evento cumpriu seu objetivo de envolver os estudantes e incentivá-los a refletir sobre a temática. “Nos surpreendeu o nível de envolvimento e engajamento dos alunos, que participaram ativamente da programação, ajudaram a promover um debate rico e se empenharam ao máximo no concurso de fotografia”, enfatizou.
Também contou com intensa adesão da comunidade acadêmica o estande educativo e o teste rápido de HIV, sífilis e hepatite B e C, realizado pelo Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA) da Secretaria de Estado da Saúde com o suporte da Saúde Escolar (Cose). “É fundamental conscientizar sobre a prevenção, principalmente nessa idade, quando os adolescentes começam a ter as primeiras experiências sexuais”, afirmou a enfermeira do CTA, Ana Paula Alves Bispo.
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