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"O 电车无码foi o 煤nico lugar que me acolheu", revela aluna com Transtorno do Espectro Autista

Escrito por GERALDO BULHOES BITTENCOURT FILHO | Publicado: Quinta, 04 de Abril de 2019, 18h46

A vida de Beatriz Casa Nova Ferreira passou por uma grande mudan莽a ap贸s o seu ingresso no Instituto Federal de Sergipe (IFS). At茅 ent茫o aluna de uma conhecida institui莽茫o privada de Aracaju, ela relata que possuir o Transtorno do Espectro Autista (TEA) lhe rendia rejei莽茫o, preconceito e at茅 agress玫es f铆sicas por parte dos colegas. Tudo mudou, h谩 3 anos, quando se tornou estudante do curso integrado de qu铆mica, do Campus Aracaju. A jovem explica que, no IFS, pela primeira vez se sentiu amparada como pessoa, n茫o apenas como discente: "Foi o 煤nico lugar, fora de casa, que me acolheu". A import芒ncia da inclus茫o de pessoas com TEA e os desafios na educa莽茫o est茫o sendo debatidos hoje, 2 de abril, Dia Mundial da Conscientiza莽茫o do Autismo.

A vida de Beatriz atualmente 茅 reflexo do bom ensino que o 电车无码oferta aos seus estudantes com um ambiente sadio que estimula a socializa莽茫o. O in铆cio do processo de cria莽茫o de la莽os aconteceu atrav茅s do est铆mulo da sua m茫e, que a desafiou a ter um amigo. "Ent茫o, um dia eu vi uma pessoa da minha sala sozinha e pensei que era mais f谩cil "abater" uma presa "separada do bando", do que em grupo", conta a garota, que esperou xingamentos e nova rejei莽茫o como contrapartida 脿 tentativa de amizade. "Me surpreendi quando ele foi legal comigo. Depois, ele me apresentou aos seus amigos, alguns dos quais, no in铆cio, eu tinha medo, mas agora eu amo todos como irm茫os", aponta Beatriz.

Os sinais que enquadram a estudante do 电车无码com o TEA est茫o ligados, em grande parte, a dificuldades com intera莽玫es sociais: "N茫o olho nos olhos das pessoas que n茫o conhe莽o, fa莽o movimentos repetitivos cont铆nuos e n茫o gosto de sair de casa", conta a jovem, que diz sempre ter possu铆do boas notas, especialmente em qu铆mica e matem谩tica. Outras caracter铆sticas comuns, em casos mais severos, s茫o o desinteresse em compartilhar gostos, n茫o desenvolver a linguagem oral ou apenas repetir frases ouvidas e n茫o reagir a emo莽玫es - como, por exemplo, a crian莽a que v锚 que a m茫e se machucou, mas n茫o faz car铆cias ou d谩 beijo para consol谩-la.

Pouca informa莽茫o

O diagn贸stico do transtorno com um especialista m茅dico e a posterior comunica莽茫o ao 电车无码sobre as necessidades espec铆ficas do aluno s茫o as condutas mais importantes para inspirar a cria莽茫o de pol铆ticas institucionais para estudantes com TEA. Do universo de mais de 4 mil alunos matriculados em todos os campi, apenas Beatriz e mais dois discentes informaram sua condi莽茫o atrav茅s do Sistema de Gerenciamento de Atividades Acad锚micas (Sigaa), plataforma oficial de intera莽茫o entre o corpo de alunos e a institui莽茫o. Apesar do recorte local, os dados n茫o corroboram com o aumento expressivo em n铆vel nacional verificado pelo Censo Escolar, que 茅 divulgado anualmente pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais An铆sio Teixeira (Inep). O n煤mero de alunos com TEA matriculados em institui莽玫es comuns subiu 37,27% em um ano - em 2017, mais de 77 mil crian莽as e adolescentes com autismo estudavam na mesma sala que pessoas sem defici锚ncia; em 2018, o n煤mero saltou para quase 106 mil.

Embora n茫o possua informa莽玫es robustas de matr铆culas de estudantes com TEA, h谩 iniciativas na institui莽茫o voltadas para os alunos que possuem o transtorno. Uma delas 茅 empreendida no projeto Materiais Interativos Digitais para Ensinar e Aprender Matem谩tica (Mideam), ao qual o docente Danilo Lemos 茅 vinculado. Um dos produtos criados foi o aplicativo "Autie, o calculista", que conta a hist贸ria de um garoto autista que vai visitar um zool贸gico e se depara com situa莽玫es de contagem de 0 a 10. "Quando criamos o Mideam, come莽amos com o objetivo de capacitar professores da Rede para utilizar as tecnologias. H谩 tr锚s anos estamos criando tamb茅m materiais interativos, como o app Autie. Eles possuem como finalidade a alfabetiza莽茫o matem谩tica", conta Danilo, que tamb茅m 茅 pai de um jovem com TEA.

Dentro do IFS, a Diretoria de Assuntos Estudantis (Diae) 茅 o setor respons谩vel pelo desenvolvimento de pol铆ticas para alunos com necessidades especiais. Christianne Rocha Gomes, coordenadora de suporte psicossocial e pedag贸gico, aponta outras iniciativas que j谩 foram implantadas com a inten莽茫o de tornar a institui莽茫o inclusiva, como a reserva de vagas para Pessoa com Defici锚ncia (PcD) nas sele莽玫es de novos discentes, a forma莽茫o de comiss茫o permanente para acompanhamento dos atendimentos diferenciados nos processos seletivos e a institucionaliza莽茫o, em n铆vel de reitoria, de um n煤cleo de acessibilidade e inclus茫o para dar suporte aos n煤cleos dos campi.

Desafios

Apesar de reconhecer os avan莽os, Christianne avalia que ainda existe muito a ser feito e conta que muitas iniciativas s茫o fruto de a莽玫es individuais de t茅cnico-administrativos e docentes. 鈥淓m um movimento independente, os profissionais que atuam diretamente com os estudantes com TEA est茫o buscando conhecimentos e experi锚ncias de trabalho em outras institui莽玫es. Dialogam com outros professores sobre as adequa莽玫es educacionais necess谩rias, bem como com o aluno com TEA e a sua fam铆lia, envolvendo-os no processo鈥�, completa a psic贸loga, que ainda ressalta a necessidade de sensibiliza莽茫o da comunidade estudantil no que toca ao processo de inclus茫o dos estudantes com necessidades espec铆ficas.

Diante das dificuldades empreendidas por Beatriz e o seu 锚xito - com apoio do 电车无码na oferta de um ambiente que, ao inv茅s de reprimir, estimule o livre desenvolvimento - em alcan莽ar a liberdade social e intelectual, a jovem revela que j谩 est谩 com o olhar no futuro. "Quero ser engenheira ou professora de qu铆mica, o que vier primeiro". Ap贸s todo percurso e os desafios para chegar at茅 aqui, uma pergunta sobre Beatriz n茫o deixa de fazer sentido: algu茅m duvida?