Construindo pontes para o futuro: 糵promove inclusão social por meio da educação
Pessoas com deficiências encontram nos estudos um caminho de realizações profissionais e pessoais
Por Adrine Cabral
Nesta segunda-feira, dia 28 de novembro, alunos, professores, gestores e convidados testemunharam mais um marco histórico do Instituto Federal de Sergipe: a defesa da primeira mestra que ingressou em programa de pós-graduação pelo Instituto Federal de Sergipe como cotista em vaga para pessoas com deficiência (PcD). Conquista esta que simboliza o poder que a educação apresenta de promover a inclusão, especialmente quando há uma atenção voltada para ofertar um ensino cada vez melhor e mais acessível a seus alunos, como é o caso do IFS.
Além de seu recente título de mestra conquistado por meio do Programa de Pós-graduação do Mestrado Profissional de Gestão de Turismo, Cristina Santos da Silva é formada em Gestão de Turismo também pelo IFS, possui especialização em turismo, além de ser guia de turismo. O fato de utilizar cadeiras de rodas ou de outros recursos de acessibilidade para se locomover não restringiu os sonhos da turismóloga, que buscou na educação o meio para se posicionar enquanto profissional e também para abrir caminhos para que outras pessoas com deficiências possam descobrir o mundo e romper fronteiras por meio do turismo acessível.
“Todos temos limitações e ao longo de meus 38 anos vivi muitos percalços em minha busca pelo saber. E é uma grande felicidade chegar onde cheguei: ser uma pessoa que precisava ir para a escola em carrinho de mão para vencer a lama onde eu moro, no bairro Santa Maria, em Aracaju, e agora estar defendendo minha dissertação de mestrado. Para eu chegar aqui hoje é uma grande conquista, sim”, comemora. Além do mestrado, atualmente Cristina se dedica à sua empresa de consultoria de turismo acessível para outras empresas e instituições públicas.
Cristina compartilhou a relevância do estudo sobre turismo e acessibilidade, com foco na proposição de medidas para tornar o trade turístico mais acessível em Aracaju, Sergipe. Ao trabalhar a sensibilização dos empresários do ramo, ela ressaltou a necessidade de conscientização e a importância de ir além do cumprimento de normas legais. Durante sua pesquisa, a turismóloga encontrou uma lacuna de conscientização, conhecimento e empatia em relação à acessibilidade. Ela ressaltou a importância de compreender as necessidades e desafios das pessoas com deficiência, não apenas na perspectiva física, mas também na arquitetônica, urbanística, de saúde e na qualidade do atendimento.
糵inclusivo
Enquanto a pós-graduação registra seu primeiro feito de formar uma mestra que ingressou no 糵pelas cotas destinadas a pessoas com deficiências, os demais níveis de ensino contabilizam histórias de sucesso no tocante à inclusão e acessibilidade. Em 2022, 49 pessoas ingressaram na instituição como alunos do ensino médio/técnico e da graduação por meio de vagas destinadas a PcDs. Em 2023, foram 41 ingressantes pelas cotas, de acordo com o Departamento de Gestão Acadêmica. Nas pós-graduações, são três matriculas ativas de alunos com deficiência.
E as políticas destinadas à inclusão não se resumem ao ingresso na instituição, apesar de durante os processos seletivos já haver o acompanhamento pela Comissão Permanente de Atendimento Diferenciado nos Processos Seletivos do IFS, que existe desde 2019. Ao iniciar seus estudos na instituição o estudante com deficiência é acolhido e acompanhado ao longo do curso pela equipe multidisciplinar de apoio ao Núcleo de Atendimento às Pessoas com Necessidades Específicas (NAPNE) de cada campus – e todos os campi do 糵possuem suas equipes -, que juntamente com os docentes e técnicos administrativos da instituição trabalharão em prol da permanência e do processo de aprendizagem desse estudante. São profissionais das áreas de pedagogia, psicologia, serviço social, além de outros da saúde e da educação trabalhando em prol da inclusão.
Atuando diretamente com alunos com deficiências, além de pessoas neuroatípicas e com comprometimento temporário ou intermitente, os Napnes assistem atualmente 240 pessoas regularmente matriculadas distribuídas entre os 10 campi do IFS, de acordo com Christianne Rocha Gomes, coordenadora do Núcleo de Acessibilidade e Educação Inclusiva (Naedi). O Campus Aracaju concentra o maior número: 97 estudantes, sendo que há casos que necessitam de acompanhamento mais sistemático, de adaptações e outros não, mas a equipe vai acompanhando e dando o suporte necessário. Além do apoio psicopedagógico, o estudante pode ainda ter direito a benefícios como auxílios e outros benefícios sociais e acadêmicos, dependendo de cada situação.
No tocante à sensibilização da comunidade acadêmica para prestar o melhor atendimento aos PcDs de acordo com suas especificidades, a coordenadora do Naedi ressalta a ação contínua dos profissionais da instituição. “, mas entendemos que essa é uma ação contínua, permanente, não pode parar. Trabalhar inclusão abarca uma diversidade de questões, peculiaridades que precisamos estar sempre estudando, nos capacitando e descontruindo os preconceitos instituídos socialmente”, destaca.
Aprendizado mútuo
Ainda em relação às adaptações pedagógicas, de apoio e físicas, o pró-reitor de Ensino, Alysson Barreto, destaca o empenho do 糵em não somente atender à legislação, mas ir além. “É ainda um grande desafio nos adaptarmos e atendermos de forma adequada a esse público. Somente para operacionalizar o que dita a lei de inclusão é necessária uma série de ações que contempla o Naedi ou os Napnis, mas de toda a instituição, seja em sua estrutura física ou para um atendimento educacional especializado. Mas à medida em que recebemos esses públicos temos buscado as condições necessárias de acordo com cada especificidade, ofertando o melhor atendimento possível”, explica.
Ao receber pela primeira vez uma aluna cadeirante no programa de pós-graduação, a coordenadora do Mestrado Profissional em Gestão de Turismo, Ilka Bianchini, destaca que os desafios iniciais foram de adequação do ambiente físico, apesar das aulas no início terem sido no formato virtual. O ambiente foi redimensionado, os colegas da turma dela foram parceiros e tanto eles a auxiliaram como ela também os ensinou muito, mostrando que a deficiência não é empecilho para o trabalho e o pensar. Depois os docentes foram conversando e trocando informações sobre o que deu certo e o que não deu certo, buscando no coletivo a melhor forma de trabalhar”, relata.
Sonhar e realizar
Ao longo da entrevista para esta reportagem, minutos antes de defender sua dissertação de mestrado sob o olhar de dezenas de pessoas, a turismóloga Cristina falava com a postura e a eloquência de quem tem autoridade sobre a temática e que está em casa com o ambiente acadêmico. Não é à toa que sua aprovação foi aplaudida por colegas, professores e convidados com tom de inspiração.
A outras pessoas com deficiência que sonham com a carreira acadêmica, Cristina sugere primeiramente buscar a fé e, assim, enfrentar, batalhar e estudar. “Afinal o conhecimento é uma das poucas coisas que ninguém pode nos tirar”, finaliza.
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