Neabi abre celebração do Dia da Consciência Negra no 糵com debate sobre currículo excludente
Os 20 anos da Lei 10.639 de 2003 foi abordada pelo pedagogo, doutor em Educação, Evanilson de França
A Lei 10.639 de 9 de janeiro de 2003, alterou a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática "História e Cultura Afro-Brasileira". Entre as alterações, incluir no calendário escolar o dia 20 de novembro como ‘Dia Nacional da Consciência Negra’.
De acordo com o pedagogo, doutor em Educação, Evanilson de França, na prática, e depois de 20 anos, não passou disso. “Durante o ano todo parece que nos colocam na senzala e nos soltam só no Dia da Consciência Negra”, disse. Essa afirmação reverberou no evento do ‘Novembro Negro’ que aconteceu nesta quinta-feira (16), no auditório do Centro de Pós-graduação do 糵e abriu a celebração do Dia da Consciência Negra na instituição.
Para o também professor doutor Alexandre Oliveira, coordenador do Neabi – Núcleo de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas do instituto, essa é uma lei de ‘faz de contas’. “Depois dessa Lei não há nenhum documento de referência. Eu percebo o seguinte: É dito aos negros, agora vocês têm uma lei e então é dada a responsabilidade mais uma vez ao povo preto. Nós sofremos a consequência do racismo, sofremos como povo que foi escravizado e agora temos que dar conta do processo de conscientização do branco. Nos tiram da senzala para educar branco. A responsabilidade continua sendo nossa ao passo que quem também deveria estudar, buscar compreender nossa dor, o nosso lugar, as nossas necessidades, as nossas carências é, também, o povo branco, porque é ele quem precisa se reconhecer como parte dessa herança escravocrata, afinal quem ficou com as benesses da escravidão não foi o povo negro”, enfatizou
Alexandre disse que Evanilson de França tocou no calcanhar de Aquiles da educação. “As palavras de Evanilson tocaram nas nossas feridas enquanto educadores. Nós estamos no âmbito de uma educação permeada pela colonialidade e para a efetivação de uma educação antirracista, uma educação pró relações étnico-raciais como estamos propondo, ela precisa fazer uma reflexão, uma crítica à colonialidade, ao currículo e a essa estrutura de sociedade, o que também é uma crítica à educação, à instituição escolar. Se pensarmos bem a ideia de institucionalização é complicada e ineficiente para abarcar outros conhecimentos e outros saberes como o professor bem colocou”, ressaltou
Para ilustrar o que chamou de ‘produção da inexistência’, Evanilson lembrou que os currículos excluem a cultura africana e a literatura negra. “Nós não temos autores negros no currículo e temos diversos exemplos: de Abdias Nascimento à Conceição Evaristo”, disse. Ele falou da europeização dos conteúdos nas escolas brasileiras e da ‘morte’ pelas instituições educacionais, dos traços culturais negros como uma violência à identidade. “O currículo brasileiro é racista. A instituição de ensino precisa atender a todos indistintamente senão será excludente e violenta”, enfatizou.
Mesmo diante da Lei 10.639, Evanilson expôs que para trabalhar com atividades que incluam a temática afro-brasileira, a exemplo do Grupo Parlacênico de Teatro, formado por estudantes negros e que fez apresentação na abertura do ‘Novembro Negro’, com esquetes intituladas de ‘Sobreviventes de Palmares’, enfrenta diversos entraves. “Não há espaço para nós; nos reunimos sábados e feriados para desenvolver as atividades do grupo”, salientou.
Mas apesar de tantos relatos de dificuldades e exclusão, Alexandre fez uma avaliação positiva do evento e disse que além da fala de Evanilson e da contribuição dos presentes, um dos pontos altos foi a roda de conversa com diversos alunos pretos que representaram os nove campi do IFS. “A participação dos alunos foi muito importante. Temos muita clareza de que precisamos dar voz a esses estudantes. Fazer com que os estudantes tomem parte no processo de construção da instituição. Da construção das políticas, dos currículos. Eles têm muito a dizer. Não só do ponto de vista de suas vivências que é muito rico. Mas a educação precisa romper os muros e ouvir essas vozes dissidentes; saber como se sentem na instituição, como se veem nela enquanto alunos pretos e não pretos também, porque eles têm ideias de como ela pode ser mais inclusiva e mais acolhedora para todos”, sentenciou.
Veja programação do ‘Novembro Negro’, em todos os Campi do IFS.
11 a 27/11 | Campus Socorro
18/11 | Campus Poço Redondo
20/11 | Campus Lagarto
20/11 | Campus ʰDZá
20 a 30/11 | Campus Aracaju
21/11 | Campus Tobias Barreto
22/11 | Sessão Especial do Ananse | IFS, IFSC e IFC
24/11 | SEMEXT | Painel Política de Cotas e a Rede EPT: desafios e avanços
25/11 | Campus São Cristóvão
27 a 30/11 | Campus Itabaiana
28/11 | Campus ұó
29/11 | Campus âԳ
29/11 | Imaginários Negros | Sessão Especial
Redes Sociais