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Projeto busca mapear e identificar mosquitos vetores de doenças no Brasil

Escrito por GERALDO BULHOES BITTENCOURT FILHO | Criado: Quarta, 13 de Março de 2024, 16h17

20240306 100849Sessenta alunos dos cursos integrados participaram de uma oficina sobre construção de armadilhas, que foram instaladas no Campus Lagarto e nas residências dos próprios estudantes

Desde muito jovem, Ariane Menezes Santos alimentava sonhos que a levavam para além do cotidiano de sua cidade. Enquanto outras crianças imaginavam-se em profissões mais convencionais, Ariane olhava para as estrelas e sonhava com a imensidão do universo, desejando um dia desvendar seus mistérios como cientista. Este fascínio infantil por descobertas e experimentos encontrou um novo horizonte em março, quando Ariane, agora estudante do curso técnico integrado em Edificações no Instituto Federal de Sergipe (IFS), Campus Lagarto, abraçou a oportunidade de se envolver no projeto “Ciência Cidadã na Prática: Oficina de Mapeamento de Mosquitos Vetores de Doenças”. A jornada da pesquisa começou com uma oficina dedicada à construção de armadilhas para a captura dos mosquitos, que, na etapa posterior, serão levados ao laboratório de biologia da instituição. Lá, sob orientação especializada, os alunos validarão a identificação dos insetos recolhidos.

O projeto é resultado de uma colaboração entre o Campus Lagarto e professores da Universidade de São Paulo (USP) que têm o objetivo de mapear e identificar mosquitos vetores de doenças perigosas, como zika, chikungunya e sobretudo a dengue, que neste momento impõe ao país uma epidemia sem precedentes. Segundo informações fornecidas pelo Ministério da Saúde e divulgadas pela Agência Unesp, o país registrou 512 mil ocorrências de dengue até o mês passado. Esse total engloba casos já confirmados e outros ainda sob investigação, e abrangem todas as unidades federativas desde o começo de janeiro. O relatório também aponta para 75 óbitos confirmados em decorrência da doença, enquanto outras 217 mortes permanecem em investigação. A cifra de 512 mil casos representa um aumento de quase quatro vezes em comparação ao mesmo intervalo do ano anterior, que teve 128 mil registros.

20240307 113407 1A condução do projeto, no Campus Lagarto, está a cargo de Aline Alves Ferreira Lima, professora de biologia. Sua trajetória com o "Ciência Cidadã na Prática" começou com um simples toque de curiosidade, acionado por uma postagem no Instagram da Socialab, uma startup dedicada a unir esforços de universidades e escolas básicas na promoção da ciência aplicada. A docente destaca que o projeto se alinha com diversos conteúdos abordados no ensino médio, como sistemática e classificação biológica, anatomia e fisiologia animal, e programas de saúde pública. Após a conclusão da primeira experiência, ela aponta para a possibilidade de expandir a iniciativa, visando tanto a pesquisa quanto o combate aos mosquitos: “Existe a perspectiva de fazer multiplicar essa experiência em outros campi e outras escolas, e a possibilidade de aprofundar a pesquisa para uma vertente de análise genética dos mosquitos, fazendo uma parceria com laboratórios regionais, sob a coordenação do Socialab”, explica Aline Alves.

Desafios

20240306 100336A dinâmica do projeto exigiu dos alunos não apenas a participação ativa na confecção e monitoramento das armadilhas, mas também uma dedicação ao aprendizado contínuo e ao registro meticuloso dos dados coletados. Cada artefato de captura recebeu um rótulo e uma numeração de controle. Já os alunos levaram para casa uma planilha para realizar o acompanhamento do experimento, na qual constam os campos para o registro da presença de ovos, larvas e indivíduos adultos de diferentes espécies de mosquitos. Este processo prático serviu como introdução ao método científico, enfatizando a observação, hipótese, experimentação e conclusão como etapas fundamentais para a investigação. Haroldo Gabriel Carvalho dos Santos, outro aluno do curso técnico integrado em Edificações envolvido no estudo, compartilhou uma das dificuldades encontradas: a seleção de um local adequado em sua casa para posicionar a armadilha, que necessitava ser um ambiente nem muito iluminado nem completamente fechado. “Enfrentar e superar esses desafios nos empodera a educar a comunidade sobre medidas preventivas, como evitar água parada, essenciais para impedir a proliferação de mosquitos e a transmissão de doenças”, observa o estudante.

Ao participar de iniciativas como o "Ciência Cidadã na Prática", estudantes como Ariane e Haroldo se tornam agentes do avanço científico e do fortalecimento da consciência comunitária sobre questões de saúde pública. Segundo Aline Alves, a experiência os ensinou o valor da pesquisa aplicada e da participação ativa: “Eles se tornaram protagonistas na construção de um conhecimento de extrema utilidade para a sociedade, principalmente neste momento em que o Brasil passa por uma epidemia de dengue sem precedentes, agravada pelas consequências das mudanças climáticas”, aponta a professora, reforçando que as conclusões do estudo servirão para nortear políticas públicas imediatas de combate aos mosquitos vetores de doenças. Desta forma, o projeto oferece aos alunos a perspectiva sobre como a ciência pode ser empregada de maneira prática para promover a saúde e o bem-estar, ressaltando o papel que jovens podem desempenhar na conscientização e prevenção de crises sanitárias e para a construção de uma sociedade melhor.

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